Episódio 01 – Era Uma Vez Um Monopólio
Neste episódio do nosso podcast eu te explico melhor as razões dessas ações, como isso afeta nossas vidas e o que podemos esperar.
https://www.theguardian.com/technology/2019/sep/06/facebook-google-antitrust-investigations-explained
https://www.forbes.com/sites/rachelsandler/2020/08/05/as-facebook-launches-tiktok-clone-a-look-back-at-6-other-rival-products-it-copied/#32be50d05c5a
https://www.npr.org/2020/10/20/925895717/antitrust-lawsuits-google-2020-vs-microsoft-1998
https://edition.cnn.com/2020/10/20/tech/doj-google-antitrust-case/index.html
Transcrição deste episódio do podcast
Era uma vez dois reinados: o das mídias sociais e o das plataformas de pesquisa. Cada um deles era comandado por um rei disposto a fazer de tudo para manter seu monopólio.
Um dos reis, que chamaremos de menino Markinho, mas talvez você o conheça como Mark Zuckerberg, ao perceber que um novo monarca se aproximava abordava a comitiva e pagava muito bem para comprar tudo o que o monarca tinha
e convidá-lo para viver no seu reino. O outro rei era o onipresente Google – as pessoas até achavam que tudo acima e abaixo da Terra se chamava Google – e ele, ao perceber que seus súditos poderiam se interessar em migrar
para outros reinos (como o reino do Bing), fazia de tudo para que as pessoas não tivessem para onde fugir.
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Eu sou a Mariana Klein e este é o Era uma vez no Reino das Mídias Sociais, o podcast da Petit Mídias Sociais. E hoje nosso assunto é o monopólio do Facebook e do Google nas plataformas digitais. É nesse cenário que nós nos
encontramos hoje, súditos de menino Markinho e do rei Google. E é por causa deste cenário que, nos Estados Unidos, está em curso uma batalha contra o monopólio dessas duas empresas. Já faz vários meses que essas investigações
antitruste estão acontecendo por lá, e não só os CEOs do Facebook e do Google foram interrogados, mas também os da Apple e da Amazon. E é óbvio que eles responderam que essas especulações não têm nada a ver.
Mas então, o que você precisa saber sobre essa investigação no que diz respeito ao maravilhoso reino das mídias sociais?
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A primeira coisa é entender o tal do antitruste. Truste é um termo usado para se referir a cartéis e monopólios, ou seja, empresas que usam seu poder no mercado para controlar preços e distribuição de produtos e serviços,
fazendo com que possíveis concorrentes desistam de entrar no mercado. No Brasil, temos um órgão que zela pela manutenção de livre concorrência de mercado, ele se chama CADE, que quer dizer Conselho Administrativo de Defesa
Econômica, e quando uma empresa quer comprar a outra, por exemplo, esse conselho pode ajudar nessas decisões para buscar um mercado diverso e com opções para diferentes consumidores. Nos Estados Unidos não existe um CADE,
então são os legisladores estaduais e federais que julgam essas questões.
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E por que o Facebook está sob investigação?
A questão gira em torno de algumas coisas que eu imagino que você já saiba. Eles estão sendo acusados de conduta anticompetitiva, o que inclui a compra de concorrentes e a cópia de ferramentas de concorrentes. E, se você
não sabe, eu tô aqui neste podcast para te contar.
Em março de 2019 o Facebook adquiriu um app chamado Masquerade, que era um app que permitia a criação de algo que só o Snapchat tinha até então, os filtros. Em abril daquele ano, eles lançaram a opção de compartilhamento
do perfil por QR-Code no Messenger, que também era uma opção só presente no Snapchat até então. Em agosto, entraram no ar os stories do Instagram. E aí estava na cara que quem estava na mira era o Snapchat, sim, não tinha
como enganar mais ninguém. Depois disso, vieram os stories no Facebook, no WhatsApp, filtros 3D, stories por geolocalização, mensagens privadas cada vez mais parecidas com as do Snapchat. E o mesmo aconteceu com o TikTok
e o formato do Reels no Instagram e sabe-se lá mais o que já foi comprado ou copiado por eles.
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E o Google, o que fez de errado?
São duas as atividades em que o Google parece detém o monopólio: pesquisa e anúncios. A empresa paga milhões para parceiros para ser a plataforma de pesquisa padrão em navegadores, é o caso do contrato deles com a Apple.
Isso faz com que eles sejam a plataforma responsável por 80% das pesquisas na internet. E as pessoas até acreditam que o Google é a Internet. Além disso, o Google paga milhões para fabricantes de dispositivos móveis, como
esse smartphone em que você está ouvindo este episódio (é o caso se você tem um motorola, LG, samsung…), para que o Android seja o sistema operacional usado. No caso dos anúncios, quase todo o faturamento da Alphabet, que
é a empresa dona do Google, vem das campanhas de rede de pesquisa, display e vídeo. Para você ter uma ideia do tamanho dessa briga, estamos falando de 134 bilhões de dólares em 2019.
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Tá, e o que isso tem a ver com a minha e a sua vida?
Menos competição acaba, no longo prazo, resultando em menos inovação e um menor poder de escolha para o consumidor. Além disso, tem também o fato de que essas plataformas podem coletar muitos dados de navegação nossos e limitar
essa coleta por parte de outros parceiros, que vão acabar ficando para trás por não oferecerem bons resultados de conversão de campanha e aí menino Markinho e o rei Google poderão simplesmente nos dizer que “ah, com a pandemia
aumentou o custo por clique, putz”, e as empresas pagarão cada vez mais por menos retorno. Isso é um problema, especialmente para as pequenas empresas, que acabam trabalhando no limite dos investimentos. E, claro, a questão
da privacidade dos dados é também uma questão preocupante, e essas plataformas dominarão cada vez mais o fluxo de informação das nossas vidas, seja para criar produtos e serviços que nos ajudam, seja para eventualmente manipular
informações.
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Mas e isso tudo vai dar em alguma coisa ou vai acabar em pizza?
Bem, o fim dessa história pode demorar para acontecer, mas existe uma luz no fim do túnel. Não sei se você lembra, mas teve um tempo em que a gente comprava um computador e ele obrigatoriamente vinha com o Windows como sistema
operacional. E, vindo com o Windows como sistema operacional, o uso do navegador da marca também era obrigatório.
Abrindo um parênteses aqui: eu sou aquela pessoa com um tiquinho mais de idade, então fiz curso de DOS quando era menina e o mouse foi uma evolução tecnológica muito fantástica na minha vida. E eu lembro bem desse tempo de
dominância do Windows sobre tudo e todos, e lembro também do quanto eu achei estranho quando comecei a ver conversas sobre outros navegadores, simplesmente não entendia porque usar outro se já tinha aquele. Espero que em
breve tenhamos mais opções de tudo. Fecha parênteses.
Voltando ao Windows: na década de 1990 rolou uma ação antitruste muito parecida nos Estados Unidos que exigia que a Microsoft mudasse a forma como interagia com o mercado e propusesse contratos menos restritivos aos seus
parceiros. E deu certo. Hoje você pode comprar um computador de um grande fabricante e ele não necessariamente virá com o Windows como sistema operacional. Inclusive, em alguns casos, você precisa pagar um pouco a mais para
ter o Windows na sua máquina. O fato é que, em 20 de outubro deste ano, 2020, depois de cerca de 1 ano de investigações, o departamento de justiça dos Estados Unidos ajuizou uma ação contra o Google. E, em breve, pode chegar
a vez do Facebook receber o processinho. Como vai terminar? Não sei te dizer, mas sei que, enquanto profissional das mídias sociais, eu espero que possamos ter cada vez mais transparência nas relações com as plataformas.
Enquanto isso, você pode ver no nosso site, petitmidiassociais.com/podcast, os links das reportagens que fizeram parte da pesquisa para esse episódio, e eu recomendo acompanhar o que vem daqui pra frente, porque estamos diante
de um momento decisivo para o futuro do marketing digital. E isso é tudo hoje, diretamente do Reino das Mídias Sociais. Eu sou a Mariana Klein e recomendo que até o nosso próximo encontro neste podcast você não alimente os
trolls.
Episódio 02 – Um Bicho-Papão Chamado Algoritmo
Neste episódio do nosso podcast você vai aprender o que é, para que serve e de onde vem o tão temido algoritmo. No fim de tudo, esperamos que você possa ir pra cama sem medo desse bicho-papão.
O que é o algoritmo do Instagram e como ele funciona?
https://youtu.be/qIZ5PXLVZfo
https://mashable.com/article/what-is-an-algorithm
https://www.google.com/search/howsearchworks/algorithms
https://www.infomoney.com.br/perfil/sergey-brin/
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-se-forma-a-areia-movedica/
Transcrição deste episódio do podcast
Era uma vez no Reino das Mídias Sociais, uma noite de tempestade.
E nas noites de tempestade todo mundo já sabia o que ia acontecer.
As pessoas do Reino teriam pesadelos com o bicho-papão. Nesse pesadelo, você é perseguida por um monstro criado pelo Rei Markinho e, no cansaço da correria, você pisa em um poço de areia movediça.
Para tentar fugir, você continua tentando correr, mas aí já é tarde demais e o bicho-papão fica ali assistindo enquanto você é sugada para o fundo.
E, por mais que você chame os amigos e até tente pagar alguém que venha te puxar pra fora, o bicho-papão e sua areia movediça são mais fortes. Você não tem como escapar. Dizem que, na manhã seguinte, as pessoas do Reino se
encontram para compartilhar suas experiências oníricas. Todos eles com medo de um bicho-papão chamado Algoritmo.
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Olá! Eu sou a Mariana Klein, fundadora da Petit Mídias Sociais e você está ouvindo o nosso podcast, o Era uma vez no Reino das Mídias Sociais. Hoje nossa conversa no podcast é sobre algo que tira o sono da galera do digital.
Ou não. Eu, por exemplo, não tenho pesadelos com ele porque já entendi como ele funciona, e aí não tenho do que ter medo. E é isso que eu quero pra você: que você possa dormir, acordar e trabalhar todos os dias sem medo desse
bicho papão que atende pelo nome de Algoritmo.
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Mas, afinal, o que é o algoritmo?
No livro The Master Algorithm, O algoritmo mestre, o pesquisador Pedro Domingos explica que um algoritmo é um conjunto de instruções. Arram, simples assim. É um conjunto de instruções tanto quanto uma receita de bolo ou uma
soma de dois e dois que resulta em quatro. Por sinal, vou colocar no site da Petit o link para uma TED Talk do Pedro Domingos, é bem legal ouvi-lo falar sobre como os algoritmos definem nossas vidas hoje. Voltando à nossa
definição, então o algoritmo é um conjunto de instruções. E ele não é uma novidade, porque como comentei há pouco, historicamente nós temos receitas, fórmulas, instruções para atirar uma flecha ou usar um estilingue com sucesso.
No contexto do maravilhoso Reino das Mídias Sociais e deste podcast, o algoritmo diz para uma plataforma como o Facebook e o Instagram como agir. Ele é construído em uma estrutura de vários “se”s e “entãos”. Pensando no uso
do Instagram, seria algo como: se o usuário clicar duas vezes em cima de um post, então adicione uma curtida dele àquela publicação.
O primeiro grande algoritmo desse nosso contexto digital é o algoritmo de ranqueamento da pesquisa do Google, criado pelo Larry Page e pelo Sergei Brin na década de 90. O Sergei é aquele cara que, se você for pesquisar o
nome dele no Google, vai encontrar uma foto dele com o Google Glass. Você lembra do Google Glass? Tá, mas não é sobre o Google Glass que eu quero falar. Quero te contar que o Sergei tem uma história de vida bem interessante:
ele nasceu na Rússia e sua família emigrou para os Estados Unidos no fim da década de 70. A família dele era super simples, ele estudou em uma escola montessoriana e se formou em Ciência da Computação com 19 anos. Sim, ele
é super inteligente. O Sergei e o Larry se conheceram na Universidade de Stanford, e o algoritmo de ranqueamento do Google é um resultado da pesquisa de doutorado em Ciência da Computação do Larry Page. É por isso, inclusive,
que o algoritmo do Google se chama PageRank. Não é porque página em inglês é page, é porque esse é o sobrenome de um dos criadores dele. Desde 2019 eles não trabalham mais na administração das empresas da holding do Google,
e investem seu tempo, conhecimento e bilhões de dólares em pesquisas de exploração espacial.
Na pesquisa do doutorado do Larry Page, ele queria desenvolver uma forma mais inteligente para organizar as páginas disponíveis na internet. E, aí, ao invés de olhar para dentro das páginas e analisar seus textos, ele tomou
um caminho diferente, que já é conhecido para quem transita na área acadêmica. Ele criou um sistema de classificação de importância das páginas com base em quantas citações elas tinham e de onde essas citações vinham.
Hoje, quando falamos de otimizar um site para a pesquisa, a gente chama isso de backlinks. Se você não sabe o que é, pode usar o próprio Google para pesquisar.
Um outro exemplo de algoritmo complexo em uso nas nossas vidas diárias é o do Feed do Facebook e do Instagram. Esse algoritmo é tão complexo que vira um bicho-papão. Mas, basicamente, ele é um conjunto de instruções para
indicar quantas publicações novas cada pessoa vai ver ao abrir o aplicativo e em que ordem elas serão exibidas. No caso das plataformas do Reizinho Mark (e se você não sabe de quem eu tô falando, ouça o episódio anterior)
o que determina quais publicações chegarão a cada usuário é uma combinação de fatores baseada no comportamento de cada pessoa em ambiente digital. Por quais assuntos esse usuário se interessa? Com quais perfis ou páginas
ele costuma interagir? Quantos perfis ele segue? Com que frequência essa pessoa abre o aplicativo? Quando os perfis que ela segue publicaram pela última vez? Essas são apenas algumas das perguntas que o algoritmo vai buscar
responder para organizar melhor as informações e entregar para cada um de nós os conteúdos com maior chance de interação.
E aí, você já pode ter ouvido alguém falar que o alcance orgânico morreu, maldito bicho-papão Algoritmo, que fica puxando os criadores de conteúdo para a poça de areia movediça! Vem cá, deixa eu te contar uma coisa. Eu participo
desse rolê há muitos anos, e eu posso te garantir que a cada 12 ou 18 meses esse tema sempre volta. É sério. É como a blusa ciganinha, pode até pular um verão, mas ela vai voltar. No passado eu até escrevia uns posts a cada
apocalipse desses, teve o dos 2% de alcance, depois o dos 7%, teve o apocalipse Instagram, quando o feed mudou de cronológico para otimizado pelo algoritmo, enfim. Hoje eu nem escrevo mais sobre essas coisas porque já entendi
que não faz muita diferença. Afinal, as pessoas sempre vão dar mais audiência a essas bobagens sensacionalistas do que a uma explicação técnica do que está acontecendo. No meio dessa confusão toda causada pela preguiça de
entender como a máquina foi programada, volta e meia surge o vendedor de elixir mágico, nosso amado guru de marketing digital. E ele estaciona sua carroça na praça do reino e grita aos quatro ventos que vai te ensinar a hackear
o algoritmo.
Mas e eu posso hackear o algoritmo?
É óbvio que você pode tentar. Essa é a graça de viver em uma sociedade democrática, você pode fazer o que quiser desde que isso não faça mal aos outros. A questão é que, apesar de serem criados por programadores humanos,
uma boa parte dos algoritmos das grandes empresas de tecnologia, como o Facebook, a Amazon, a Netflix, são gerenciados no dia a dia por inteligência artificial. E aí, minha amiga… meu amigo.. a areia movediça ganha. Nós precisamos
ter a consciência de que tem muitas coisas que a máquina consegue fazer melhor que nós. Escrever um bom texto com objetivo de conversão de vendas pode ser algo que os humanos fazem melhor, porque no fim das contas, estamos
escrevendo com base em experiências e necessidades. Mas otimizar uma campanha que está rodando para um público de um milhão de pessoas? Isso a máquina vai fazer melhor. O que cabe a nós é fazer a nossa parte da melhor forma
possível.
Você sabe como faz para escapar da areia movediça? Você pára de lutar e se mover para não afundar mais. Nosso corpo é menos denso que a mistura de água e areia, então quando paramos conseguimos boiar lentamente. No Reino
das Mídias Sociais é a mesma coisa. Você aceita que, para seus seguidores receberem suas publicações, você vai ter que entender o que eles precisam e entregar isso em forma de conteúdo. Você aceita que as plataformas
de anúncios precisam de alguns dias para otimizar a entrega de uma campanha, e para de ficar fuçando e fazendo alterações a cada 4 horas. E, mais importante, você para de acreditar no guru que te diz que basta agarrar uma
corda ou um galho e ser puxada para fora da areia. Porque isso simplesmente não funciona, você vai seguir presa por causa de uma coisa que o guru viu num filme, ou que contaram para ele e, como bom guru que ele é, não foi
pesquisar para saber se era verdade.
E aí, eu te falei que, assim como a blusa ciganinha volta, os boatos de fim do alcance orgânico voltam também. E eu vou te ensinar o que fazer na próxima vez que isso acontecer. E você vai usar uma espécie de algoritmo para
isso, é uma simples fórmula matemática. Quando você enxergar uma daquelas publicações que fala que a partir de agora o algoritmo está limitando o alcance das publicações a 4% dos seus seguidores, você vai fazer o seguinte:
Abra seu perfil de Instagram comercial e, nas suas últimas 5 publicações, clique em Ver Informações. Anote o valor do alcance. No seu perfil, veja o número de seguidores e anote no papel também. Se quiser, pode até pausar
este episódio e ir lá no seu perfil de Instagram Comercial e coletar esses dados. Agora calcule o Alcance x 100 dividido pelo número de seguidores. Nos últimos 5 posts da Petit, por exemplo, os valores variam entre 12% e
36%. Essa é a taxa de alcance, ou seja, é a proporção do alcance da sua publicação em relação ao número de seguidores do seu perfil.
Se no passado você não deu ouvidos ao guru e construiu sua base de seguidores sem pressa e com base em conteúdo de alto valor, pelo menos por enquanto você não precisa se preocupar com o bicho-papão. Porque essa é a lição
dessa história: a gente não teme aquilo que conhece e sabe como lidar. Mas, se você comprou seguidores, seguiu um monte de gente para ser seguida de volta, cria conteúdo sem pé nem cabeça e não entrega alto valor para seus
seguidores… bem, aí você não pode culpar o algoritmo, né?
Quer saber mais sobre algoritmos? Então acesse petit.social (isso mesmo, p-e-t-i-t.social) e clique em Podcast para ver a transcrição deste episódio e vários links interessantes para aprofundar seu conhecimento e não sair
por aí falando bobagem.
E isso é tudo por hoje, diretamente do Reino das Mídias Sociais. Eu sou a Mariana Klein e vou ficando por aqui, sempre recomendando que até o nosso próximo encontro neste podcast você não alimente os trolls.
E, por falar em Troll, você já viu o novo mascote deste podcast? Ele é um troll biscoiteiro, como todo troll, e foi desenhado pelo maravilhoso Jeferson, da
Agência Libre. O Jef e a Libre são responsáveis pela identidade visual da Petit e eu super recomendo falar com eles se você precisar de trabalhos criativos.
Era uma vez no Reino das Mídias Sociais é o podcast da Petit Mídias Sociais, escrito e editado por mim, Mariana Klein.
Episódio 03 – Vem Chegando o Guru do Marketing Digital
Neste episódio vou te conduzir pelos caminhos que desvendam o que são esses gurus, como eles conseguem se destacar em meio a tanta gente, porquê tantas pessoas os seguem e qual é o problema disso. E hoje tem um bônus no final,
vou te contar sobre a minha mais recente interação com um guru de marketing digital.
Então, ajuste os fones de ouvido porque eu tenho uma história pra te contar.
History – The Barnum Festival | Bridgeport CT, May 12th – June 25th 2017
Barnum Museum – Wikipedia
“Barnum in Three Parts,” 1994 on JSTOR
History – The Barnum Festival | Bridgeport CT, May 12th – June 25th 2017
Barnum: O príncipe das falcatruas | Super (abril.com.br)
Tradicional circo Ringling Bros. fecha após 146 anos | Pop & Arte | G1 (globo.com)
Aventuras na História · Da Mulher Barbada a Sereia de Fiji: O freak show de P. T. Barnum (uol.com.br)
Oito curiosidades sobre o excêntrico fundador do circo mais antigo do mundo – 16/01/2017 – UOL Entretenimento
Guru – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
Amanda Montell’s Cultish: Cult-Like Things in Everyday Lives (themarysue.com)
Review: ‘Cultish’ Examines the Language of Fanaticism – The Atlantic
Cultish: The Language of Fanaticism | Amazon.com.br
Podcast— Sounds Like A Cult
Documentários
:The Vow, os segredos mais sombrios do NXIVM | HBO Brasil
Prime Video: AS FACES DA MARCA
A Indústria da Cura | Netfli
xTranscrição do episódio
Quando chega a primavera no Reino das Mídias Sociais, as pessoas saem para a rua e aproveitam o sol, as flores, deitam na grama e percebem que, assim como os ciclos das estações, a vida também se renova e as possibilidades
são infinitas nesse reino ultraconectado.
Nesses momentos é comum ouvir o rangido das rodas de uma carroça, e as crianças começam a se animar e gritar: “Olha! Lá vem ele! O Guru do Marketing Digital!”.
Quando chega na praça central do reino, o guru abre a lateral da sua carroça e expõe seus elixires, suas pílulas, pomadas e pozinhos para dissolver na água. “Essas fórmulas são capazes de curar os problemas que afligem o
indivíduo”, diz o guru com sua voz hipnotizante. “Esta aqui é para quem precisa multiplicar dinheiro! Esta outra é para garantir que você venda todos os dias! E olhem, olhem, essas pílulas que garantem engajamento e previsibilidade
financeira!”.
E os súditos do Rei Markinho correm para gastar suas últimas moedas, na esperança de um dia poderem ser tudo aquilo que o guru é. Na esperança de terem todo o sucesso que o guru tem.
Mas será que é assim mesmo que funciona?
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Olá! Eu sou a Mariana Klein, fundadora da Petit Mídias Sociais e você está ouvindo o nosso podcast, o Era uma vez no Reino das Mídias Sociais.
Hoje nossa conversa é sobre um personagem que você certamente conhece, ame-o ou odeie-o, o Guru de Marketing Digital.
Neste episódio vou te conduzir pelos caminhos que desvendam o que são esses gurus, como eles conseguem se destacar em meio a tanta gente, porquê tantas pessoas os seguem e qual é o problema disso. E hoje tem um bônus no final,
vou te contar sobre a minha mais recente interação com um guru de marketing digital.
Então, ajuste os fones de ouvido porque eu tenho uma história pra te contar.
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A American Marketing Association define marketing como “uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do relacionamento
com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado”.
Ou seja, marketing é identificar as necessidades e desejos das pessoas e criar produtos e serviços que satisfaçam essas necessidades.
Quando olhamos para trás, encontramos uma figura que é possivelmente, o primeiro grande profissional de marketing da história. O nome de é Phineas T. Barnum, ou P.T. Barnum. Talvez assim, só ouvindo o nome dele você não esteja
lembrando de quem eu estou falando. Mas puxa aí na sua memória um filme do Hugh Jackman (também conhecido como Wolverine) em que ele é um cara de cartola num circo… Esse cara é o PT Barnum e esse filme se chama “O Rei do
Show”.
A vida, a história, e o marketing de PT Barnum são tão controversos que até hoje, mais de um século depois da sua morte, ele é estudo de caso em várias frentes, das suas pseudoautobiografias ao comportamento do consumidor
ávido por ver de perto uma sereia de Fiji, uma mulher barbada e a suposta mulher mais velha do mundo.
Sim, é sério, ele fundou uma espécie de museu itinerante chamado de P.T. Barnum’s Grand Traveling Museum, Menagerie, Caravan, and Circus, que fazia demonstrações dos chamados freaks, ou aberrações, em português. Dentre essas
aberrações, entre aspas, estava uma escrava que ele afirmava que tinha 161 anos e que tinha sido babá de George Washington. Só por essa história você já entende a vibe do Barnum, né?
E a maioria das coisas que ele fazia iam sempre nessa mesma direção.
Por exemplo, quando ele notou que a história da mulher mais velha do mundo estava saturada, ele enviou uma carta anônima para os jornais dizendo que era tudo uma farsa. E que a mulher nem era uma mulher, ela era uma construção
de ossos e pele de animais. E, assim, ele atraiu muitas e muitas pessoas que queriam ver a mulher-robô.
É óbvio que eu não vou deixar passar a oportunidade de te contar que a sereia que ele apresentava como sendo um espécime trazido diretamente de Fiji, era nada mais nada menos que uma montagem de corpo de peixe e cabeça de
macaco.
Com essas histórias todas, Barnum acabou construindo um império. Ele é considerado o criador do circo moderno, inclusive foi o responsável pelo estrondoso sucesso do circo Ringling Brothers and Barnum & Bailey Circus,
que encerrou suas atividades apenas em 2017, em partes pela proibição de usar elefantes no seu “The greatest show on Earth”, ou o maior show da Terra.
Por falar em elefantes, imagino que você não saiba que é por causa do Barnum que até hoje usamos a palavra Jumbo para dizer que algo é muito grande. Sim, ouvinte, o Jumbo foi uma das estrelas do maior show da Terra, ele era
um elefante que o Barnum anunciava como sendo o maior elefante da terra. Inclusive, depois que o Jumbo morreu, Barnum mandou empalhar o elefante para que ele continuasse participando do show como se nada tivesse acontecido.
E você aí achando que a energia caótica era a do seu escritório. Não, o Barnum ganha de você em qualquer dia da semana.
Eu preciso te contar, também, que na pesquisa que eu fiz sobre o Barnum para este episódio, encontrei alguns artigos que mencionam o desconforto dele, mais pro fim da vida, com algumas das coisas que ele tinha feito na juventude
para atrair pessoas para seus shows. Descobri, também, que ele foi um dos fundadores da companhia de água local, Bridgeport Hydraulic Company, e do banco Pequonnock, depois renomeado de Connecticut National Bank.
Por isso, ele é reconhecido pela cidade de Bridgeport, no estado norte-americano de Massachusetts, como um dos líderes históricos da cidade. É lá que fica o Barnum Museum, construído pelo próprio Barnum e inaugurado em 1893,
e é em Bridgeport que anualmente acontece o Barnum Festival, uma celebração da história da cidade, junto de outras cidades vizinhas, com o objetivo de manter viva a história e os valores do homem que possibilitou tantos avanços
locais.
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Na descrição deste episódio você encontra os links das referências que eu li para estruturar este episódio, e no Instagram da Petit, @petitescola, você encontra, também, algumas fotos das aventuras de PT Barnum.
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Mas por que é importante conhecer essa história toda? O que é que esse cenário de circo em 1800 e bolinhas tem a ver com os gurus de marketing digital?
Tudo o que o Barnum fez e tudo o que os gurus de marketing de hoje fazem nascem da mesma base da qual nasce o marketing em si. Identificar necessidades e desejos e criar produtos e serviços que supram essas necessidades.
Só que, quando nós falamos sobre oferecer soluções para os desejos mais íntimos das pessoas, se abre uma porta para testar limites, extrapolar promessas e se aproveitar das maiores fragilidades das pessoas para ganhar dinheiro.
Tenso, né?
Deixa eu começar te contando o que é um guru. Guru real, raiz, e não usando o termo de forma pejorativa como quando dizemos que alguém é um guru de marketing digital.
O guru é um mestre em hinduísmo, budismo e siquismo. E a palavra guru, em si, quer dizer mestre em sânscrito. Essa palavra também está relacionada ao Brihaspati, uma deidade hindu que é influente no ensinamento do devoto,
e é análoga ao deus romano Júpiter, deus do dia, do céu e do trovão.
Pois então, nós acabamos usando uma expressão da religião para nos referir a esses profissionais que supostamente ensinam temas relacionados ao marketing. E essa escolha é interessante porque ela conecta essas pessoas aos
deuses que, até então, estavam confinados nas religiões.
E isso diz muito sobre quem nós somos enquanto seres humanos.
Nós temos um anseio interminável por conexão, nós queremos fazer parte, nós queremos sentir que estamos apoiados por uma rede invisível de mãos e braços que vão nos segurar se nós cairmos.
Isso é o que a humanidade buscou e encontrou na religião durante séculos.
Só que essa vontade de fazer parte não terminou quando as pessoas começaram a se distanciar da religião. É muito fácil olhar para a vida moderna em que muitas pessoas se definem como ateístas ou espiritualistas sem denominação
tradicional e pensar que estamos todos salvos das crenças que levaram milhares de pessoas a cometerem atos absurdos e inomináveis em nome de uma religião.
O que mudou, de fato, agora, é que ao invés de estarmos à disposição de uma religião ou de uma divindade específica, estamos à disposição de basicamente qualquer grupo ou pessoa que possa nos unir em nome de um bem comum
e contra qualquer pessoa que venha dizer algo ruim das nossas crenças.
Isso resolve, em grande parte, um defeito de fábrica de todo ser humano, que é a dificuldade de assumir responsabilidade pelos seus atos. Então acaba sendo muito mais simples ter alguém que decida por nós, que nos diga quais
são os 3 passos para alcançar um resultado, qual é a rotina a ser seguida por quem quer alguma coisa e quais são as etapas infalíveis para qualquer coisa.
A linguista e autora norte americana Amanda Montell define isso como sendo um efeito da crença moderna de que podemos ser o que quisermos, desde que tenhamos uma marca pessoal bem construída. Só que são tantas as opções,
são tantos os caminhos, que só o que a gente quer é ter um guru que nos diga o que escolher. Ela diz que ter um guru é ter um template para seguir, seja em posicionamentos políticos e sociais, seja na escolha do que vestir
e como cortar o cabelo.
É aquele momento em que a gente acrescenta o “E-R” no fim das palavras e torna todo mundo parte de um grupo, como os farialimers, os kpopers e vários outros “ers” por aí.
Esse terreno cheio de incertezas acaba sendo solo fértil para gurus e cultos, mesmo que você ache que aquilo não é um culto. Afinal, culto é a família do Manson, responsável por vários assassinatos brutais. Culto é o que
o Jim Jones criou, e que culminou no suicídio coletivo de 918 pessoas, entre elas várias crianças.
Então não pode ser que esse cara ou essa mulher tão empreendedores, tão dispostos a mudar a minha vida, tão preocupados com o meu sucesso, sejam gurus de um culto.
Ou pode?
Possivelmente, seguir um determinado guru de marketing digital ou fazer parte de um grupo exclusivo de pessoas que pensam da mesma forma, não vai te levar ao cenário extremo do suicídio coletivo, mas é importante que você
saiba e entenda que muitas das técnicas e estratégias usadas por esses cultos extremos foram adaptadas e são usadas hoje para que você compre alguma coisa.
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Vou te propor um exercício para você fazer nos próximos dias. Vou te apresentar três recursos linguísticos usados por cultos e você depois me conta quantas vezes você viu eles em anúncios de produtos de marketing digital
durante uma semana.
Recurso 1 – Nós contra eles
Essa é uma forma de dizer que só quem consome um determinado produto pode alcançar os resultados desejados. Nesse sentido, existem dois tipos de pessoas, uma que é aquela que faz tudo errado e a outra que é aquela que segue
este guru e que, portanto, é a única com direito a ter sucesso. Ou, ainda, existe um segredo que “eles” não querem que você saiba e só o guru vai te contar a verdade. Eu adoro esse recurso porque sempre fico pensando “quem
são eles?”.
Recurso 2 – Repita o mantra
Se prepare para discordar do guru e receber em troca uma frase genérica como “Confie no processo”. O conformismo é muito importante para manter as pessoas em um grupo. E é por isso que qualquer questionamento de como ou por
quê, vai levar uma resposta que peça a você para não discordar. Afinal, se você não obteve o resultado esperado, é porque você ainda não chegou ao final da sua jornada. Aqui tem mais um curso que você precisa comprar para
chegar lá.
Recurso 3 – O segredo é a emoção
Frases e palavras carregadas de emoção, depoimentos em vídeo que contam como eu segui o guru tal e vendi cem mil reais em 1 dia, são também um dos recursos linguísticos de cultos usados pelos gurus para te vender o programa
de 5 mil reais que vai mudar a sua vida.
Uma outra forma de deixar suas emoções à flor da pele é fazer você participar de um processo para poder ter acesso ao programa master blaster jumbo (por que não jumbo) que vai mudar a sua vida. Então, só depois de assistir
às aulas ao vivo, de se cadastrar e aguardar é que você poderá ser um dos escolhidos para receber esse conhecimento.
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Eu digo isso tudo para que você possa tomar suas próprias decisões a partir de um posicionamento informado. Usar esses recursos linguísticos e adotar algumas práticas de cultos não é, necessariamente, negativo.
Como eu comentei antes, a gente quer fazer parte, a gente quer pertencer, a gente quer ter um grupo de iguais com quem a gente possa usar termos que só aquelas pessoas entendem. Isso é uma das coisas que nos faz humanos.
Mas, ao mesmo tempo, precisamos redobrar a atenção para que nossos instintos mais animalescos não nos levem a perder dinheiro ou a sanidade. Saber identificar essas armadilhas é o que vai nos ajudar a saber quais passos cada
um de nós está disposto a percorrer para chegar ao seu conceito de sucesso.
E é por isso que eu decidi compartilhar a minha experiência de como eu caí feito um patinho no papo de um guru do marketing digital.
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Eu não tinha me dado conta de que falar sobre isso poderia servir de alerta para as pessoas. Mas, depois de ver alguns relatos e documentários de pessoas que foram enganadas das formas mais variadas, decidi compartilhar.
A primeira coisa que eu preciso que você saiba é que eu trabalho com marketing digital há mais de uma década, certo? E que eu já atendi mais de 250 clientes em toda a América Latina, certo? E que eu sou professora de marketing
digital, que já ajudei um cliente a ter um faturamento milionário em poucos meses, e que atualmente eu tenho clientes no Brasil e na Europa, além de mais de 13 mil alunos em 32 países.
Tudo isso pra que você entenda que, possivelmente, eu não preciso ser aluna de um curso que ensina a vender cursos. Porque, basicamente, eu sei o que eu preciso fazer pra vender qualquer coisa online.
Mas, então, como é que eu fui levada a pagar mil reais à vista por exatamente isso?
Tudo começou quando recebi um e-mail de uma empresa cujos serviços eu uso na minha jornada de vendas. Obviamente não vou dar nomes aos personagens dessa história porque meu objetivo não é diminuir ninguém, meu objetivo é
ajudar você a identificar possíveis armadilhas.
Então, nesse e-mail, tinha um convite. A empresa ia lançar uma série de vídeos contando histórias de pessoas como eu, mas que, ao contrário de mim, estão vendendo todos os dias e faturando pelo menos 30 mil por mês vendendo
todos os dias. Nos próximos dias eu receberia 5 vídeos com 5 histórias inspiradoras.
Esse é o primeiro alerta. Eles usaram um nós-contra-eles, que divide o grupo de empreendedores em duas categorias, aqueles que fazem lançamentos para vender seus produtos e os outros, que usam uma máquina de vendas para vender
todos os dias e não se preocupar com lançamentos.
Ao fim dos 5 dias, veio o convite para participar de um treinamento de 3 noites com o guru que ajudou essas pessoas a terem uma estrutura que vende automaticamente todos os dias.
O guru é jovem. Ele mora em uma casa enorme em um condomínio cobiçado. Ele dirige um carro do ano. Ele viaja. Ele come nos melhores restaurantes. E ele vem do nada. Vem de uma história sofrida, de tentativas e erros que os
levaram a decodificar o processo decisório dos consumidores, o que o levou a faturar milhões de reais nos últimos 3 anos.
E o melhor: ele está disposto a ensinar para você como você pode montar essa máquina fantástica para vender todos os dias, de graça, em 3 noites.
Esse é o segundo alerta. Aprender, testar, errar, estudar e se aperfeiçoar tem um custo, monetário e de tempo. Ou seja, não tem como compartilhar a sua ferramenta mais importante sem cobrar nada por isso.
Nas 3 noites de treinamento, me dediquei, peguei um caderno e anotei tudo o que foi falado. Só semanas depois é que eu me dei conta de que eu estava tão envolvida que tudo o que eu anotei é parte do que eu ensino. Ou seja,
é parte do que eu domino e é parte da entrega que eu faço para meus clientes há mais de uma década.
E eu anotei cada palavra do guru com 3 anos de experiência, que mora numa casa melhor que a minha e que tem um carro melhor que o meu. Talvez por isso eu tenha anotado tudo o que eu já sabia.
Em meio às aulas está o terceiro alerta. Para finalizar cada encontro o guru fazia uma lista de coisas que diferenciam nós deles. E eu não me orgulho de ver que eu tenho uma lista dessas anotada e que nela constam coisas
como: o diferencial de quem se destaca é ter um mentor e executar o que o mentor diz, mesmo que você se sinta contrariado. Outra frase é: Acredite no processo. E ainda quem se diferencia tem uma mentalidade de crescimento
constante, deixa seu ego de lado, é 100% responsável pelos seus resultados e nunca está do lado da maioria.
Nessas frases estão alguns dos conceitos que depois eu fui encontrar no livro da Amanda Montell como parte dos recursos linguísticos usados por cultos e seus gurus.
Mas às 23h de uma quarta-feira, cansada, sentada diante do computador, ouvir o guru observar que várias pessoas já tinham saído da sala virtual e que só quem ficou até o fim foi escolhido para receber uma oferta imperdível
despertou alguma coisa em mim.
E aí, ele disse todas as coisas maravilhosas que aquelas pessoas dos depoimentos, pessoas iguais a mim, tinham conquistado seguindo o método dele. E ele perguntou para os poucos remanescentes quanto valeria ter previsibilidade
de faturamento, ganhar pelo menos 30 mil por mês, poder morar em um condomínio como o dele, em uma casa como a dele e ter todo esse sucesso?
Os corajosos participantes deram seus lances. Isso tudo vale 30 mil, 10 mil, 5 mil!
E o guru respondeu que, normalmente ele cobra 5 mil por todo esse conhecimento, mas que como nós somos parceiros da empresa tal, poderíamos ter acesso a toda essa maravilha por apenas 997 reais à vista ou parcelado em até
2 vezes. Mas que isso só estaria disponível para 50 escolhidos dentre as mais de 200 pessoas que participaram do treinamento.
Então, teríamos que responder a um questionário e, se fossemos selecionados, passaríamos por uma entrevista. E, dependendo das nossas respostas e da nossa disposição em investir tempo e dinheiro nesse projeto, poderíamos
comprar o método.
Este é o quarto alerta. Além de dissociar nós deles, agora eu estava sendo desafiada a fazer alguns malabarismos para provar que eu era digna de receber essa oportunidade quase que divina.
Maluco, não é? E hoje eu olho para trás e me pergunto como eu posso ter sido tão tapada para acreditar nisso.
Essa sensação é bem ruim, só que ela me levou a estudar para entender o que tinha acontecido e hoje eu me sinto segura até de compartilhar tudo isso porque entendo que o que aconteceu foi que essa pessoa soube acessar meus
medos e desejos mais profundos para me convencer a comprar um curso de marketing digital com uma qualidade muito inferior à qualidade das formações que eu ofereço.
Sério, pra você ter uma ideia, o cara grava as aulas dele numa cafeteria, com direito ao barulhão da máquina de espresso e outros barulhos do ambiente.
Essa foi uma das primeiras coisas que me fez questionar a minha compra, mas o momento em que a ficha realmente caiu foi quando pedi ajuda com uma página de vendas que criei usando um dos templates compartilhados pelo guru
e a resposta que recebi foi que eu precisava deixar a minha promessa inicial mais forte, porque uma boa promessa no início é capaz de vender mesmo com uma página mediana.
E aí eu fiquei como naquele meme do John Travolta e como assim a página é mediana, se ela foi exatamente a página que você indicou como construir? Depois disso comecei aos poucos, a perceber que meus colegas de grupo são
pessoas que estão em um nível de negócios muito anterior ao meu e que, portanto, a seleção não serviu para nada, e que quando os alunos questionavam sobre o método não dar resultados a resposta era sempre evasiva e é você
que não está se esforçando tanto quanto devia.
E a cereja do bolo eu guardei para o final.
Uma das coisas que ajudam a identificar esse comportamento de culto para amolecer as pessoas e tirar dinheiro delas é o uso de termos e expressões que só têm importância para quem faz parte. Para os outros é só mais uma palavra.
Nesse caso, o cachorro do guru tinha como nome uma palavra que denomina uma técnica de vendas. Sim, imagina que o guru em questão fosse um dermatologista e o cachorro dele se chamasse botox. Era mais ou menos isso.
E foi assim que eu caí no conto do guru com comportamento de culto. Assim como eu, qualquer pessoa pode cair também. Só espero que, agora, com tudo o que aprendi nas últimas semanas, eu esteja melhor preparada para a próxima
vez que algo parecido cruzar o meu caminho. E espero ter te ajudado também.
Se você se interessa por esse tema e quer saber mais sobre esses comportamentos manipuladores, vou deixar uma lista de três documentários na descrição deste episódio, e aí você pode se juntar a mim na busca pela proteção
contra esses tipos.
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E isso é tudo por hoje, diretamente do Reino das Mídias Sociais. Eu sou a Mariana Klein e vou ficando por aqui, sempre recomendando que até o nosso próximo encontro você não alimente os trolls nem os gurus.